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segunda-feira, 24 de junho de 2019

O Direito à Revolução



O Direito à Revolução
                           Pierre Leroy



Hoje, vivemos num mundo que nos impõe a alienação total da vida. O mundo capitalista nos rodeia, nos cerca, nos dirige, nos sufoca. Poucos resistem. O que significa a resistência, a luta? Significa não dobrar-se totalmente diante da alienação e da coisificação total da vida. Mas mesmo o mais revolucionário dos indivíduos está preso ao mundo mercantil, burocrático e competitivo que nos envolve. Aliás, o revolucionário sofre mais do que qualquer outro indivíduo, pois ele tem a consciência das suas necessidades, da sua insatisfação, da alienação. Um revolucionário é como Prometeu acorrentado: não está apenas “preso” como as demais pessoas, mas está também sendo cotidianamente ferido por um animal alado, ele não está apenas preso, pois também sente a dor da consciência da prisão e da agressão que esta lhe traz.

A luta, a resistência, é um direito autêntico dos seres humanos. Os que não lutam são os que se acomodaram ao mundo. Eles sofrem outros tipos de sofrimentos mas sofrem. O seu sofrimento não é causado pela consciência da alienação mas pela alienação cotidiana que lhe é imposta. A luta do revolucionário autêntico traz a consciência de sua alienação, mas ela significa uma margem de liberdade. No modo de vida burocrático, mercantil, e, consequentemente, fútil, de nossa sociedade, o único espaço para a liberdade é a práxis revolucionária. Esta, entretanto, quando é feita em agrupamentos políticos que reproduzem no seu interior o modo de vida burguês perde o seu caráter revolucionário e deixa de representar para o indivíduo um espaço de liberdade. Uma associação revolucionária só manteria o seu caráter revolucionário construindo uma nova sociabilidade no seu interior, instaurando a solidariedade, a ajuda mútua, a ação coletiva, a vontade revolucionária.

Sem dúvida, muitos gostam de ler os autores revolucionários, mas poucos são aqueles que aceitam o desafio de executar uma práxis revolucionária. Esta traz, obviamente, represálias, inveja, conflitos cotidianos. A revolução não é coisa para covardes. Os covardes que se dizem revolucionários só fazem discurso pseudorrevolucionário nos “locais apropriados” e outros só o fazem quando lhes é conveniente.

A revolução é, tanto para os revolucionários quanto para os que não são conscientemente revolucionários, um direito autêntico, ou seja, deve ser praticada. Se no reino da mercadoria e da burocracia existe a alienação total, então existe também a insatisfação total. O que falta, esta é a grande pergunta, para que esta insatisfação total se transforme em revolução total?

A resposta deixa todos perplexos: um acontecimento explosivo. Toda revolução foi desencadeada por um acontecimento (coletivo, ou seja, que envolve vários indivíduos) explosivo e assim a revolução em estado latente se manifestou ou em termos marxistas a guerra civil oculta se transformou em guerra civil aberta. Ele, no entanto, só pode ocorrer devido as condições sociais, tanto a insatisfação social quanto crises e situações que a aumentam, faltando apenas a faísca para provocar o incêndio. Este acontecimento explosivo tem que ser significativo para a população e, portanto, não inclui formação de guerrilhas nas zonas rurais, que significa apenas o auto-isolamento de grupos vivendo de sua imagem burocrática da revolução. O acontecimento explosivo, além de significativo, para não ser uma faísca natimorta, pressupõe condições como a insatisfação e seu aumento, que ocorre graças a processos sociais de intensificação da exploração, miséria, etc., e/ou de sua consciência. Como já dizia o maior profeta revolucionário de todos os tempos: é preciso acrescentar a consciência da vergonha ou miséria para que elas se tornem explosivas e que o sentido da transformação seja o construtivo e não o destrutivo.

Portanto, a tarefa do movimento revolucionário hoje é, além do seu trabalho cotidiano, criar acontecimentos explosivos e as condições necessárias para a efetivação da revolução proletária. Neste sentido, tanto a ideia de um “detonador da revolução” dos marxistas esquerdistas, quanto a ideia de “exemplo pela ação” são relativamente corretas. Apesar da importância da luta cultural, a revolução não virá através do processo de “conscientização”. Esta faz parte da luta de classes em geral e é uma das determinações do processo de transformação radical da sociedade. Ela não serve apenas para aumentar o número de indivíduos envolvidos diretamente com o movimento revolucionário e sim para criar um processo de clarificação que expressa uma consciência antecipadora que se torna fundamental atingindo as classes exploradas e, consequentemente, aumenta as possibilidades de criação de acontecimentos explosivos que poderão desencadear a revolução autogestionária. Assim, o inconsciente coletivo torna-se consciência revolucionária. O direito à revolução se manifesta, então, na prática revolucionária e com sua concretização se decreta o fim do reino da mercadoria, da burocracia e da alienação. É neste momento que emerge um mundo novo, um mundo livre. Nasce, desta forma, como já dizia Marx, o grande profeta revolucionário, o reino da liberdade ou, como disseram outros profetas revolucionários, a autogestão.


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