CURSO DE EXTENSÃO: ANÁLISE DO DISCURSO EM PERSPECTIVA DIALÉTICA.
Rádio Germinal
segunda-feira, 9 de outubro de 2023
CURSO DE EXTENSÃO: ANÁLISE DO DISCURSO EM PERSPECTIVA DIALÉTICA
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021
Carta aos organizadores do comício de Londres em memória da Comuna de Paris - Piotr Kropotkin
Abaixo carta de Kropotkin aos organizadores de comício sobre a Comuna de Paris, que este ano faz 150 anos. Esse evento histórico extraordinário será tema de curso de extensão e mesa redonda promovido pelo GPDS (UFG) e Edições Enfrentamento (que está lançando uma série de livros sobre a Comuna de Paris). Veja o curso e mesa nesse link: https://www.even3.com.br/comunadeparis/
e a coleção de livros nesse link:
https://www.edicoesenfrentamento.net/s%C3%A9rie-comuna-de-paris
Carta aos organizadores do comício de Londres em memória da Comuna de Paris
Piotr Kropotkin
Caros camaradas!
Lamento muito que minha saúde não me permita passar esta noite com você.
É bom despertar energia em si mesmo, inspirado pela memória da gloriosa batalha em que os trabalhadores parisienses lutaram há 32 anos contra as forças unidas do capitalismo internacional!
Ainda mais agora, quando entramos em um período de despertar geral dos trabalhadores, quando a ideia da solidariedade internacional dos trabalhadores de todos os povos e sindicatos foi proclamada tão ruidosamente e brilhantemente justificada pela vida, como se manifestou especialmente nos últimos doze meses.
O espírito da velha Associação Internacional dos Trabalhadores, que criou a Comuna de Paris, foi revivido. Ela se manifestou em greves gerais em Barcelona, em várias pequenas cidades da Andaluzia, na Bélgica, em Genebra, na Holanda.
O mesmo espírito e o mesmo entusiasmo inspiraram os trabalhadores oprimidos - poloneses, judeus e russos - na Polônia, Rússia Ocidental, Rostov.
Ele apoiou a Federação dos Trabalhadores Portuários quando esta ameaçou o governo holandês com um boicote à indústria holandesa se não parasse com as medidas repressivas contra as greves; ele também inspirou a grande greve dos mineiros americana, que mostrou todo o poder do Trabalhismo unido e toda a decadência do estado capitalista.
Ele apóia e inspira o amplo, grande e poderoso movimento na França que está preparando a Greve Geral. A possibilidade deste último foi comprovada. Seu significado é óbvio. É por isso que a burguesia está tão admirada com isso ...
Uma greve geral ainda não é uma revolução social. Mas será um ato de união dos trabalhadores, um ato que dividirá toda a sociedade em dois campos: o campo dos trabalhadores e o dos que nada fazem. Colocará diante da humanidade o grande problema do trabalho e da exploração, em toda a sua nudez, sem nenhum embelezamento político.
32 anos deixaram sua marca, principalmente para os países latinos. Em toda parte o movimento comunista está despertando.
“Trabalhe por si mesmo e deixe que os outros o sigam”, “Não ordene, mas ensine pelo exemplo”, o proletário moderno entendeu este comando da Comuna. E começa a perceber o segundo: "O sistema comunista sem abrandar - é o que é necessário para a vida e o trabalho!"
Vamos trabalhar muito para isso e acreditar que ambos os princípios serão em breve aplicados na prática!
GRUPO DE ANARQUISTAS DO RUSSO. Nº 1
, 18 de março de 1903
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
Documentário "Onde Darwin Errou?", de Nildo Viana.
Assista abaixo o documentário "Onde Darwin Errou?", de Nildo Viana:
Documentário "Onde Darwin Errou?", de Nildo Viana. Ficha Técnica: Título: Onde Darwin Errou? Direção: Nildo Viana Duração: 1:15:08 Ano produção: 2020 Estreia: 27 de dezembro de 2020 Produtora: Edições Redelp/Nildo Viana Gênero: Documentário País de Origem: Brasil Sinopse: Darwin é considerado o fundador da “teoria da evolução”, e é tido por muitos como um cientista que mudou o mundo. Para alguns, ele é praticamente “inquestionável” e é idolatrado por muitos. No entanto, a verdadeira história de Darwin e do darwinismo foi ocultada, com raras exceções. O documentário mostra Darwin como ele realmente é, bem como os problemas contidos em suas ideias, perpassadas por racismo, sexismo e etnismo, e intimamente vinculadas aos interesses da classe capitalista. Da mesma forma, mostra os limites e problemas do darwinismo e sua herança posterior. Em síntese, o documentário aponta para uma síntese de diversas críticas ao darwinismo e diversos outros elementos relacionados. Uma produção de Nildo Viana (http://nildoviana.com) e Edições Redelp (http://edicoesredelp.net). Visite o canal da Edições Redelp: https://www.youtube.com/channel/UCW4NQqy73G3-QfNwu4NwpMg
segunda-feira, 7 de dezembro de 2020
VÍTIMAS DA FOME E A CONTINUIDADE DO CAPITALISMO
VÍTIMAS DA FOME E A CONTINUIDADE DO CAPITALISMO
O problema fundamental de nossa sociedade é a exploração de classe. A produção mercantil capitalista não significa apenas exploração do proletariado, mas fome, desemprego e miséria para o lumpemproletariado.
Esquecidas: fome mata 10 mil crianças todo mês no mundo
Estimativas apontam que 128 mil crianças no mundo morrerão de fome nos primeiros 12 meses de pandemia. Crise causada pelo coronavírus tem agravado a situação da fome em várias partes do planeta
O Burkina Faso é um país africano limitado a oeste e a norte pelo Mali. O PIB do país é um dos piores do mundo em valores per capita: apenas US$ 1.500 dólares. A agricultura representa 32% do seu Produto Interno Bruto e é a ocupação de cerca de 80% da população economicamente ativa.
Com a pandemia de Covid-19 e a longa espera pela colheita, a fome no país está ainda mais feroz do que a maioria das pessoas já conheceu.
Essa fome já está perseguindo Haboue Solange Boue, uma criança que perdeu metade de seu antigo peso corporal de 2,5 quilos no mês passado. Com os mercados fechados devido às restrições do coronavírus, sua família vendeu menos vegetais. Sua mãe está desnutrida demais para amamentá-la.
“Meu filho”, sussurra Danssanin Lanizou, sufocando as lágrimas enquanto desembrulhava um cobertor para revelar as costelas salientes de seu bebê. O bebê choraminga silenciosamente.
A fome ligada ao vírus está causando a morte de mais 10 mil crianças por mês, em todo o mundo, durante o primeiro ano da pandemia, de acordo com um apelo urgente das Nações Unidas compartilhado com a The Associated Press antes de sua publicação no jornal médico Lancet.
Mais de 550 mil crianças adicionais a cada mês estão sendo atingidas por uma desnutrição que se manifesta em membros magros e barrigas distendidas. Em um ano, isso representa um aumento de 6,7 milhões em relação ao total de 47 milhões do ano passado. O desgaste e o retardo de crescimento podem causar danos físicos e mentais permanentes às crianças, transformando tragédias individuais em uma catástrofe geracional.
Em Burkina Faso, por exemplo, uma em cada cinco crianças sofre de desnutrição crônica. Os preços dos alimentos dispararam e 12 milhões dos 20 milhões de residentes do país não têm o suficiente para comer.
Da América Latina ao Sul da Ásia e à África Subsaariana, mais famílias do que nunca estão diante de um futuro sem comida suficiente. A análise revelou que cerca de 128 mil crianças morrerão nos primeiros 12 meses do vírus.
Fome na América do Sul
Crianças de países da América do Sul também sofrem com a fome. No Brasil, metade das crianças de até 5 anos moram em lares com restrição de comida. E 10,3 milhões de brasileiros passam fome.
“Os pais das crianças estão desempregados”, disse Annelise Mirabal, que trabalha com uma fundação que ajuda crianças desnutridas em Maracaibo, a cidade da Venezuela até agora mais atingida pela pandemia. “Como eles vão alimentar seus filhos?”
Muitos são filhos de imigrantes que estão fazendo a viagem de volta à Venezuela vindos do Peru, Equador ou Colômbia, onde suas famílias ficaram desempregadas e impossibilitadas de comprar alimentos durante a pandemia. Outros são filhos de migrantes que ainda estão no exterior e não puderam enviar dinheiro para comprar mais comida.
“Todos os dias recebemos uma criança desnutrida”, disse o Dr. Francisco Nieto, que trabalha em um hospital na fronteira com o estado de Táchira. Ele acrescentou que eles se parecem “com crianças que não vemos há muito tempo na Venezuela”, aludindo àqueles que passam fome em partes da África.
Fome no Afeganistão e Iêmen
O Afeganistão está agora em uma zona vermelha de fome, com desnutrição infantil severa passando de 690 mil em janeiro para 780 mil – um aumento de 13%, de acordo com o UNICEF. Os preços dos alimentos subiram mais de 15% e um estudo recente da Universidade Johns Hopkins indicou que mais 13 mil afegãos com menos de 5 anos podem morrer.
Quatro em cada dez crianças afegãs já sofrem de nanismo. O nanismo acontece quando as famílias vivem com uma dieta barata de grãos ou batatas, com cadeias de suprimentos em desordem e dinheiro escasso.
No Iêmen, as restrições ao movimento também bloquearam a distribuição de ajuda, juntamente com a paralisação de salários e aumentos de preços. O país mais pobre do mundo árabe está sofrendo ainda mais com uma queda nas remessas e uma grande queda no financiamento de agências humanitárias.
O Iêmen está agora à beira da fome, de acordo com a Rede de Sistemas de Alerta Antecipado da Fome, que usa pesquisas, dados de satélite e mapeamento do clima para localizar os locais mais necessitados. Um relatório do UNICEF previa que o número de crianças desnutridas poderia chegar a 2,4 milhões até o final do ano, um aumento de 20%.
Dias depois de o bebê de 7 meses Issa Ibrahim deixar um centro médico no empobrecido distrito de Hajjah ao norte, ele sucumbiu a uma desnutrição aguda grave. Sua mãe encontrou o corpo em 7 de julho, sem vida e com frio.
quarta-feira, 12 de agosto de 2020
"Linchamento social", Autoctonismo e Mercado de ideias
O CANCELAMENTO DA ANTROPÓLOGA BRANCA
E A PAUTA IDENTITÁRIA
Ataques a Lilia Schwarcz
refletem disputa pelo 'mercado epistêmico' da questão racial, diz professor
Wilson Gomes
Professor titular da Faculdade
de Comunicação da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e coordenador do
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, é autor de
"Transformações da Política na Era da Comunicação de Massa" (Paulus),
entre outros livros.
[RESUMO] Autor discute os termos
do cancelamento da antropóloga Lilia Schwarcz nas redes sociais na última
semana, depois da publicação na Folha de artigo crítico ao novo álbum visual de
Beyoncé. Em sua avaliação, o episódio revela disputas acirradas entre
militantes identitários que, por meio de práticas autoritárias e ofensivas,
tentam se firmar como os únicos debatedores legítimos de temas raciais.
Aconteceu
nestes dias o cancelamento ou linchamento digital nº 4.984.959.569, realizado
por defensores de pautas identitárias, desta vez identitários negros.
Cancelamentos e linchamentos são hoje das ações mais banais das estratégias dos
identitários, sejam esses de esquerda ou de direita, principalmente depois que
grande parte das nossas vidas passou a transcorrer em direta relação com
ambientes digitais.
Nesses
ambientes é que se consegue facilmente mobilizar enorme montante de pessoas,
insuflar em grandes massas um estado de indignação moral ou furor ético e,
enfim, colocar alvos em pessoas, instituições e atos na direção dos quais toda
a fúria deve ser dirigida.
Para o
linchamento e o cancelamento digitais se requer, antes de tudo, uma multidão
unida por algum sentido de pertencimento recíproco, motivado pela percepção de
que todos estão identificados entre si por algum aspecto essencial da sua
própria persona social. Um recorte comum, por meio do qual são separados e
antagonizados, de um lado, o “nós”, de dentro do círculo, e, de outro, “eles”,
os de fora.
Em geral, o
ponto de corte formará grupos de referências ou comunidades baseadas em etnias,
cor, gênero, orientação sexual e origem geográfica ou até mesmo em posições
políticas. Desde que estas últimas possam naturalmente ser vistas como alguma
coisa que constitui essencialmente um conjunto de pessoas, como é o caso da
nova extrema direita.
Em segundo
lugar, há que haver uma motivação moral. Linchar ou cancelar não é como inventar
fake news ou disseminar teoria da conspiração, seus parentes mais próximos na
família dos comportamentos antidemocráticos digitais, que podem ser realizados
amoralmente, isto é, sem que valores estejam em questão.
O grupo que
faz um linchamento digital, por sua vez, parte da premissa de que, pelo menos
naquele ato especificamente, é moralmente superior a quem está sendo justiçado.
A comunidade de linchadores se sente justificada porque um dos seus
patrulheiros, em seu turno de guarda das fronteiras da identidade, constatou um
erro, um pecado, uma violação de alguma das suas crenças por parte de algo ou
alguém.
Cabe ao
patrulheiro tocar a corneta e chamar às armas os vigilantes da identidade para
que a punição seja aplicada e o valor pecaminosamente violado seja restaurado e
reafirmado.
O
cancelamento pode se seguir a linchamentos, só que o primeiro é reservado a
poucos. Todo mundo pode ser um dia linchado digitalmente, mas só pessoas com
visibilidade e importância social e, o que é mais importante, que pareciam
vinculadas a ou simpatizantes da pauta identitária, é que podem ser canceladas.
O cancelamento envolve ruptura e luto, uma vez que o cancelado tem que ter
representado alguma coisa para quem o cancela, mas o sentido de ultraje moral e
a fúria linchadora é mesma.
Desgostoso,
li nesses dias os textos do cancelamento/linchamento de Lilia Schwarcz pelos
identitários negros. Os termos dos decretos de cancelamento são repugnantes
para o meu paladar liberal-democrático, uma vez que, na grande maioria dos
casos, são autoritários, ofensivos, humilhantes e, vejam só, frequentemente
racistas.
Se, pelo
menos, ainda fosse justa a indignação, por ter a Lilia publicado um texto
racista ou ofensivo, ainda assim ficaria envergonhado pelos termos do
cancelamento, mas compreenderia. O pior de tudo é que não, não há nada de
errado com o artigo usado como desculpa para linchar. Divergir do que os outros
dizem é normal e esperável, ainda mais quando se trata de artistas endeusados
por fãs e pessoas identificadas com eles, mas o que veio depois disso foi
violência.
Li ou vi uma
centena de vídeos, posts e comentários para entender os “termos do
cancelamento”, e vamos ser francos de uma vez por todas: não se trata aqui
meramente de uma luta por superioridade moral, como costumava ser em casos como
esse, mas simplesmente de uma disputa pelo "mercado epistêmico" dos
temas da questão racial.
Uma luta
concorrencial entre certos negros que pretendem o monopólio exclusivo e os
concorrentes não negros que falam e discutem os temas por serem especialistas
neles ou simplesmente porque se interessam pelo assunto e que precisam ser
retirados do mercado.
Notem duas
coisas a este ponto do argumento. Primeiro, os que podem reivindicar o
monopólio dos temas não são todos os negros em geral, mas apenas o que
pretendem ter os certificados de autênticos representantes e vozes autorizadas.
Outros negros que não se atrevam a negar-lhes o direito de falar em seu nome,
pois arriscarão a ser, eles próprios, excluídos, como se arrisca, mais uma vez,
este escriba.
Em segundo
lugar, todos os outros títulos e predicados que antes autorizavam as pessoas a
falar sobre "temas negros" —formação acadêmica, interesse cultual,
empatia etc.— foram unilateralmente cancelados. Que este caso sirva de exemplo
a todos: só negros autorizados™ podem dizer qualquer coisa sobre qualquer negro
(mesmo porque são todos partes de um mesmo monólito) e seus problemas.
Claro, isso
não pode ser apresentado em termos mercadológicos, mas sempre em jargão moral:
“uma mulher branca dizer o que uma artista negra deve fazer é ofensivo”, por
exemplo. Resta saber se, em vez de Beyoncé o criticado fosse Justin Bieber, por
exemplo, o que poderia ser feito dessa sentença.
É curioso
como só nos damos conta desta luta pelo monopólio epistêmico quando há essas
escaramuças que vemos nos cancelamentos, linchamentos e assédio digitais. Uma
blitzkrieg eficiente sempre rearranja o campo. Para os atacantes, são chances
de melhor se posicionarem no mercado epistêmico: quem mais lacrar e mais
humilhar mais acumula capital. Naturalmente, quem já está bem posicionado no
campo acumulará ainda mais prestígio e distinção.
O padrão,
que já vimos repetidos milhares de vezes, é sempre o mesmo. Um patrulheiro dá o
alarme após detectar aquilo que, na sua sensibilidade identitária, é uma
violação das suas crenças. Em seguida, se já não tiver sido o caso, uma voz
autorizada™ acionará a sua rede, composta por pessoas que compartilham
dogmaticamente as suas crenças, para a denúncia do comportamento inadequado,
para a exposição do infrator ou para envergonhá-lo publicamente.
E como, na
dinâmica dos ambientes digitais, uma rede inevitavelmente toca a outra, em
pouquíssimo tempo toda a ecologia midiática da comunidade identitária, composta
por vozes autorizadas, mas também por pretendentes a influenciadores digitais e
abelhinhas de combate, estarão atacando em enxame para fazer desse caso um
exemplo para intimidar futuros infratores.
Reafirmados
os valores tribais, seguem a vida, a vigilância, as patrulhas, o alarme e novos
ataques. Foi só mais um honesto dia de trabalho da polícia identitária.
E ai dos
atacados, que são vítimas, mas nem isso podem alegar, uma vez que no
linchamento identitário são justamente "as vítimas ontológicas",
portanto, imunes às circunstâncias, os que lhes arrancam pedaços da reputação,
eventualmente empregos e vida, enquanto choram pela opressão estrutural.
É luta por
acúmulo de autoridade em termos de raça e de etnia. Um capital que depois vai
render no mercado de palestras, livros, produtos culturais, posições
acadêmicas, convites internacionais, empregos na mídia, cargos públicos e
autoridade tribal.
O mercado
epistêmico é um mercado como qualquer outro, claro, mas não pode aparecer assim
e precisa se camuflar como disputa moral pela superioridade no horizonte dos
valores. E há os crentes e simpatizantes que juram que há apenas questões
morais em jogo.
O que me
assusta, em todos esses ataques, é a enorme complacência e cumplicidade da esquerda
na tentativa de tornar nobre aquilo que, no fundo, é um discurso e um
comportamento de um tremendo autoritarismo. O que li nos termos do cancelamento
foram coisas como “cala a boca”, “racista”, “se eu fosse você estaria com
vergonha agora”, “a antropóloga branca não sabe o seu lugar”. É um filofascismo
sem oposição dos antifascistas, porque os antifascistas são cúmplices.
Lamentavelmente.
A própria
Lilia Schwarcz publica um mea-culpa em que aceita, empática, uma por uma as
premissas dos que a atacam e que estão lutando por monopólio no mercado
epistêmico. Não as examina, não as discute, nada. Renuncia docilmente ao exame
racional das alegações e aceita dogmaticamente que quem a ataca tem razão.
Mas, vamos
ao que deveria ser essencial. É Lilia Schwarcz racista? Não me parece possível.
O seu texto é racista? Nada nele dá a entender isso. Por que, então, aceitar as
acusações de racista e as descomposturas em que se lhe acusam de ter exorbitado
por ter falado sobre o que está proibida de falar simplesmente por não ser da
raça ou da cor que reivindica o monopólio do tema?
Ora, é muito
simples. Porque Lilia Schwarcz é de esquerda —ou progressista ou liberal, vocês
escolhem. Na estrutura mental, sentimental e política de um progressista, ela
não pode desafiar o dogmatismo, o autoritarismo, o dedo na cara e a interdição
quando vêm dos “oprimidos”. Tem que aceitar, pedir desculpa, jurar que não fará
de novo.
A esquerda
pede desculpas aos linchadores-oprimidos até quando sabe que não está errada.
“Não desista ainda de mim, posso melhorar”, suplica o progressista. E, em todo
caso, torna-se o cúmplice que retroalimenta a fera.
Não se
iludam: tem muita gente na esquerda que acha que linchamentos, cancelamentos,
assédio e assassinatos de reputações só são feios quando praticados pela
direita. Pelos identitários, é justiça.
Claro, os
identitários negros radicais não são bestas. Não cancelam nem lincham os
racistas, a direita conservadora. Sabem que os seus ataques seriam inúteis
contra um Sérgio Camargo, que ocupa as cotas da direita identitária no governo
Bolsonaro e está ali só para que o bolsonarismo tenha uma prova de que não é racista,
mas cujo único objetivo na administração púbica parece ser provocar
diuturnamente os identitários negros —e todos os outros negros, de sobra.
Ou um Olavo
de Carvalho, um Weintraub, ou mesmo um dos “garotos” do presidente, que vivem
de provocá-los só para ver se vem algum ataque orquestrado dos enxames
identitários de esquerda, uma vez que isso lhes daria Ibope, currículo e
distinção no bolsonarismo. Que, diga-se de passagem, é estruturalmente um
identitarismo de direita, que se alimenta justamente do ressentimento criado
pelos identitários de esquerda.
Afinal,
Bolsonaro passou a vida agitando panos vermelhos para atiçar a fúria dos
identitários de esquerda e capitalizar com isso, com o sucesso eleitoral que
todos conhecemos.
Os
identitários de esquerda, portanto, atacam justamente onde podem machucar, ou
seja, só arremetem contra pessoas de esquerda ou pessoas com empatia. Afinal,
ninguém pode difamar uma outra pessoa se o alvo justamente desejar a
"fama" que se quer imputar-lhe.
Sérgio
Camargo acorda todo santo dia para tentar preencher as cotas de insultos de
“racista” e “capitão do mato” que os identitários de esquerda vão preencher,
inocuamente. Depois vai "printar" e colocar na parede.
Já Lilia...
bem, Lilia vai pedir desculpas e dizer que aprendeu a lição. Afinal, passou a
vida lutando contra o racismo, ensinando contra o racismo, publicando contra o
racismo. Nela deve doer ser acusada de racista e, pior, usurpadora do lugar de
falar, uma pessoa sem noção que acha que pode compartilhar uma episteme que
doravante é monopólio dos negros. Triste isso.
sexta-feira, 20 de março de 2020
Coronavírus COVID-19: uma pandemia falsa (FAKE)?
O texto abaixo, do prof. Michel Chossodosky lança questões sobre a pandemia do Coronavírus. O blog Mutatis Mudandis não concorda com todo o conteúdo do artigo, que, no entanto, precisa ser considerado e gerar reflexões sobre o que ocorre, pois as informações, pelo que apuramos, são verdadeiras (o que é distinto de sua interpretação). O Mutatis Mutandis também discorda das "hipóteses (falsamente chamadas de "teorias") da conspiração", e o artigo pode ser confundido com uma dessas hipóteses. No final do texto apresentamos as referências do prof. Chossodosky que mostram essa impressão ser falsa. A publicação do texto em idioma português é devido ao fato de que é necessário a reflexão sobre o Coronavírus e sobre os interesses capitalistas por detrás do capital comunicacional, capital farmacêutico, governos capitalistas das grandes potências imperialistas, etc. Quando o lumpem-intelectual Olavo de Carvalho relacionou o Coronavírus com Bill Gates, ele omitiu suas fontes (aliás, como geralmente omite suas fontes que, paradoxalmente, são "esquerdistas", tal como seu ataque ao capital cinematográfico de Hollywood, denunciada por Nancy Fraser e outros intelectuais progressistas ou revolucionários). Assim, nem todo que o lumpem-intelectual diz é falso, mas quando não é falso, é deturpado por sua interpretação e simplificação grosseira. A leitura do texto abaixo, e da análise da linha do tempo até o dia 16 de março, é importante para uma reflexão crítica sobre o Coronavírus e seu significado, ao lado dos demais textos que Mutatis Mutandis vem publicando.